Dona
"Maria Jiló" é uma senhora de 92 anos, miúda, e tão elegante, que todo dia às 08 da
manhã ela já está toda vestida, bem
penteada e discretamente maquiada, apesar de sua pouca visão.
E
hoje ela se mudou para uma casa de repouso: o marido, com quem ela viveu 70
anos, morreu recentemente, e não havia outra
solução.
Depois
de esperar pacientemente por duas horas na sala de visitas, ela ainda deu um
lindo sorriso quando a atendente veio
dizer que seu quarto estava pronto. Enquanto ela manobrava o andador
em direção ao elevador, dei uma
descrição do seu minúsculo quartinho,
inclusive das cortinas floridas que enfeitavam a janela.
Ela
me interrompeu com o entusiasmo de uma
garotinha que acabou de ganhar um
filhote de cachorrinho.
-
Ah, eu adoro essas cortinas...
- Dona "Maria Jiló", a senhora ainda
nem viu seu quarto... Espera um pouco...
-
Isto não tem nada a ver, ela respondeu, felicidade é algo que você decide
por princípio. Se eu vou gostar ou não
do meu quarto, não depende de como a mobília vai estar arrumada... Vai
depender de como eu preparo minha expectativa.
E
eu já decidi que vou adorar. É uma decisão
que tomo todo dia quando acordo.
Sabe,
eu posso passar o dia inteiro na cama,
contando as dificuldades que tenho em
certas partes do meu corpo que não funcionam bem..
Ou
posso levantar da cama agradecendo pelas
outras partes que ainda me obedecem.
-
Simples assim?
-
Nem tanto; isto é para quem tem autocontrole
e todos podem aprender, e exigiu de mim
um certo 'treino' pelos anos afora, mas é
bom saber que ainda posso dirigir meus pensamentos e escolher, em conseqüência, os sentimentos.
Calmamente
ela continuou:
- Cada
dia é um presente, e enquanto meus olhos se abrirem, vou focalizar o novo dia, mas também as lembranças alegres
que eu guardei para esta época da
vida. A velhice é como uma conta
bancária: você só retira aquilo que
guardou. Então, meu conselho para
você é depositar um monte de alegrias e
felicidade na sua Conta de Lembranças. E, aliás, obrigada por este seu depósito no meu Banco de
lembranças. Como você vê, eu ainda
continuo depositando e acredito que, por mais complexa que seja a
vida, sábio é quem a simplifica. (desconheço o autor)
A
vida é para nós o que concebemos dela. Para o rústico cujo campo lhe é tudo,
esse campo é um império. Para o César cujo império lhe ainda é pouco, esse
império é um campo. O pobre possui um império; o grande possui um campo. Na
verdade, não possuímos mais que as nossas próprias sensações; nelas, pois, que
não no que elas vêem, temos que fundamentar a realidade da nossa vida. Fernando Pessoa
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